Estabelecimento comercializa artesanato feito por detentos no Sul de Minas

Localizada em Alfenas, no Território Sul, a loja abarca peças confeccionadas em oficina instalada dentro do presídio. Com incentivo e orientação, presos criam objetos de madeira personalizados

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A Loja Solar está localizado no centro do município
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Barcos dentro de garrafas ou casinhas de palitos de picolé não têm lugar na Loja Solar, situada no centro de Alfenas, no Sul de Minas. O estabelecimento vende peças decorativas e utilitárias produzidas por detentos do presídio da cidade. São luminárias, vasos, porta-copos, poltronas, bancos, aparadores e estantes, entre outros itens, com preços que variam de R$ 2 a R$ 300.

Crédito: Bernardo Carneiro/Seap

As peças são confeccionadas em uma oficina instalada dentro do Presídio de Alfenas, na qual trabalham cerca de 20 presos.

Com o incentivo e orientação de uma professora de artes plásticas, eles criam objetos feitos com madeira de pallets — estrado utilizado para movimentação de cargas —, papel de revistas e jornais, cimento, linhas e tecidos.

Para o secretário de Estado de Administração Prisional, Sérgio Barbosa Menezes, o espaço mostra a possibilidade de fazer diferente. “A loja representa a esperança de uma vida nova tanto para os detentos e seus familiares, quanto para o sistema prisional de Minas Gerais”, afirma.

Ressocialização

O projeto tem o apoio da Vara de Execuções Penais de Alfenas, em parceria com a Associação pela Solidariedade ao Recuperando (Assolar), que administra a compra de insumos, o pagamento da professora e o aluguel do imóvel onde está instalada a loja.

A verba é proveniente de multa pecuniária liberada pelo Tribunal de Justiça, mesma origem do recurso que será utilizado para aquisição de um veículo destinado ao transporte de matéria-prima e envio das peças de artesanato para a loja. 

O local onde as peças são vendidas foi inaugurado neste segundo semestre de 2018, mas as aulas de artesanato começaram em julho do ano passado. Desde então, os presos trabalham no aperfeiçoamento das técnicas para a confecção de peças de qualidade. O lucro das vendas será destinado à continuação das atividades de produção e comercialização.

A juíza da 2ª Vara Criminal e de Execuções Penais de Alfenas, Aila Figueiredo, é uma das principais incentivadoras e apoiadoras do projeto e participa ativamente na sugestão de técnicas e objeto. “Os presos são capazes de produzir belas peças e isto causa uma transformação positiva em suas vidas”, ressalta.
 


Crédito: Bernardo Carneiro/Seap

Atelier

Entrar no espaço onde os presos aprendem técnicas de arte e trabalham de segunda a sexta-feira significa, apesar das grades e dos uniformes vermelhos, desprender-se da realidade de um presídio. Os sentidos são despertados por tudo aquilo que o uso de pincéis, serras, tintas, agulhas, cola e martelo podem provocar.

Uma única mulher transita neste espaço, em meio a bancadas, mesas, cadeiras e concentrados artesãos. É a professora Vanda de Oliveira, 58 anos, responsável há mais de um ano pelas atividades do atelier.

Ela destaca nunca ter tido problemas de disciplina, tampouco ter sofrido qualquer atitude de desrespeito. Na atividade, uma de suas maiores alegrias é perceber que ajudou um aluno a descobrir seu talento. “Meu sentimento é de gratidão por estar aqui. Ensinamos e aprendemos o tempo todo”, relata Vanda.

 

O secretário da Seap, Sérgio Menezes, destaca que o espaço representa a esperança de uma vida nova (Crédito: Bernardo Carneiro/Seap)

O convívio com a professora vai além do aprendizado de técnicas para a confecção de peças artesanais. É o que afirma o detento Tiago dos Santos, de 36 anos. “Estar aqui deixa a minha mente tranquila. Sem a gente dar conta, vamos captando valores como disciplina e dedicação. É algo para a vida toda”, enfatiza o detento, enquanto dava forma a uma capa para almofada com uma agulha de crochê entre seus dedos.

Presente

Aprender a criar objetos com as próprias mãos significa para os presos da oficina de artes uma aproximação com a esposa, a mãe ou filhos. Isto foi incentivado pela direção da unidade prisional, por ocasião de datas comemorativas, desde o início das atividades na oficina.

Édipo Lucas Ferreira, 30 anos, é um dos presos integrantes da oficina, com participações na proposta do Presídio de Alfenas. Ele confeccionou um porta-chaves feito de madeira e tecido para a esposa e a presenteou no Dia dos Namorados. “Fiz com muito carinho. O objeto está na minha casa, e é como seu também estivesse lá, representado por ele”, destaca.

A diretora-geral do Presídio de Alfenas, Anelise de Mendonça, reforça a adesão de todos na produção dos presentes. “Todos têm participado com dedicação. É uma ótima oportunidade de manter e restabelecer os vínculos familiares e ainda obter uma qualificação profissional”, conclui. 



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