Sistema prisional do Estado torna-se grande aliado do Hospital da Baleia

Parceria entre instituições tem dado alívio nas finanças e ajudado na solução de problemas da unidade hospitalar

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Só com as hortaliças a economia do hospital já foi de R$ 10 mil
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Duas instituições de áreas completamente diferentes estão somando esforços em benefício dos seus públicos. De um lado a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) com farta mão de obra e produtos para doar, do outro um hospital filantrópico que há 74 anos atende pacientes de 82% dos municípios mineiros, o Hospital da Baleia.

A parceria tirou da ociosidade e garantiu trabalho para mais de 100 presos da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e vem ajudando o Hospital da Baleia a atender seus pacientes com mais qualidade.

A lista de trabalhos ofertados pela Seap para a instituição é extensa. Dentro do sistema prisional estão sendo fabricados móveis, brinquedos, roupas de cama, uniformes, além de estar sendo prestados serviços de manutenção, mecânica, construção civil, jardinagem, entre outros. Verduras e legumes plantados na horta do Complexo Penitenciário Nelson Hungria estão abastecendo a cozinha do Baleia.

A ideia da parceria partiu de um agente de segurança penitenciário, que durante visitas frequentes ao hospital, vislumbrou a oportunidade de a Seap ofertar serviços de manutenção para o local.

A parceria tem a intenção de ser permanente e dar à Seap o título de Amigo do Baleia. A denominação é concedida a parceiros do hospital e vai ao encontro do comprometimento da secretaria com a causa social, em especial a ressocialização.

Segundo o diretor de Atendimento e Ressocialização do Complexo Penitenciário Nelson Hungria, Paulo Duarte, foi uma visita ao Hospital da Baleia que o fez imaginar tudo o que a unidade prisional poderia oferecer ao local. Desde o envio de hortaliças, manutenção da brinquedoteca e de cadeiras de rodas comuns, até o conserto de veículos que estão em desuso por falta de peças e mão de obra para o conserto.

“Apresentamos o projeto para alguns presos da Nelson Hungria. Eles se sentiram honrados em poder ajudar a instituição e estão se empenhando para contribuir com o melhor. Presos que participam do projeto Repintar nos procuraram para oferecer quadros pintados por eles com o intuito de realizar a venda e destinar a verba ao hospital. É tudo muito gratificante. A ajuda vem de onde a gente menos espera”, disse Paulo.

Os presos também estão produzindo brinquedos - Crédito: Dirceu Aurélio/Seap

Hortas

Cebolinha, mostarda, couve, beterraba, alface, cenoura, quiabo, almeirão, jiló, tomate, mandioca. A variedade de legumes e verduras que estão sendo produzidos no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, é enorme.

Todos esses alimentos são encaminhados semanalmente para o Hospital da Baleia, que antes enfrentava um quadro de carência de recursos para comprar hortaliças. Agora com a doação, o dinheiro está sendo investido em outras coisas, como exames e gastos médicos.

Até o momento mais de meia tonelada de verduras e legumes foi entregue ao hospital. Vinte presos trabalham de segunda a sexta-feira na horta instalada em um terreno de 2 mil m², que antes ficava ocioso e onde apenas crescia mato.

A produção ainda conta com o apoio da Emater, empresa que presta assistência técnica a agricultores do Estado. Semanalmente um engenheiro agrônomo vai ao complexo e dá consultoria para os detentos. Além das aulas práticas a Emater também disponibiliza material didático.

O Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Gameleira, em Belo Horizonte, também está enviando parte da sua produção de hortaliças. A unidade prisional já doa os alimentos para outras instituições carentes. A previsão é que mensalmente 50 kg desses produtos sejam entregues ao hospital.

Outros serviços

Presos da Seap também estão prestando diversos serviços de manutenção e produzindo móveis e brinquedos para o hospital. Já foram reformadas 40 cadeiras de rodas e entregues 120 brinquedos para as brinquedotecas e salas de espera do Baleia. Camas para cachorros feitas com pneus velhos também serão doadas para os animais abandonados que ficam na área do hospital.

Mão de obra prisional realizará o conserto de móveis, troca de estofamentos de cadeiras e confecção e reforma de capa para colchão. Uma equipe de presos também será enviada para o hospital para realizar manutenções hidráulicas, elétricas e prediais.

Outras doações da secretaria serão a produção de lençóis novos e a reforma dos antigos por presos acautelados no Presídio Floramar, em Divinópolis. Além disso, a confecção e conserto de uniformes que será realizado na Penitenciária Dênio Moreira de Carvalho, em Ipaba.

Segundo a diretora-presidente da Fundação Benjamin Guimarães/Hospital da Baleia, Tereza Guimarães Paes, a parceria é um modelo de reinserção e inclusão social que beneficia ambas as instituições.

“Os detentos do Seap saem da ociosidade e podem exercer sua cidadania dedicando-se à prestação de diversos serviços de manutenção de um dos maiores hospitais filantrópicos de Minas. É um modo de reinseri-los na sociedade, valorizar sua mão de obra e aumentar sua autoestima por dar-lhes a oportunidade de serem úteis a uma nobre causa”, afirma.

Para ela, o apoio do Judiciário, viabilizando a aquisição dos insumos que serão utilizados nas ações, é mais uma mostra de que, quando se tem uma boa causa e consciência social, a cidadania pode ser estimulada gerando ganhos para a sociedade de um modo geral.

Economia e captação de recursos

A previsão é que o hospital economize logo de imediato R$ 91.647,99. Só com as hortaliças a economia já foi de R$ 10 mil. Esse dinheiro será investido em exames e consultas para os pacientes da entidade.

Boa parte desse recurso foi captada por meio de uma articulação da Seap com a Vara de Execuções Criminais de Contagem, que irá disponibilizar R$ 74.047,99 provenientes de verbas pecuniárias.

Parte do montante, cerca de R$ 32 mil, será usado na compra de peças para o conserto de automóveis do hospital. O trabalho acontecerá na oficina mecânica instalada no Complexo Penitenciário Nelson Hungria.

Mais R$ 30 mil serão investidos na instalação de uma fábrica de bloquetes, também na Nelson Hungria, para serem usados na pavimentação do entorno do hospital. Outros R$ 10 mil vão ser usados em obras de canalização da água pluvial de alguns setores do hospital que estão sofrendo com infiltração.



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