Peças produzidas em penitenciária feminina são expostas na 29° Feira Nacional de Artesanato

Presas custodias no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto criaram artigos que estão expostos em evento nacional de artesanato no Expominas

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Estande do projeto Linhas da Liberdade na 29° Feira Nacional de Artesanato
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Entre os mais de mil estandes de artesãos de todo o país, que divulgam suas peças esta semana na 29° Feira Nacional de Artesanato, em Belo Horizonte, está o estande do projeto Linhas da Liberdade, cujos produtos são cem por cento fabricados por presas custodiadas na maior unidade penitenciária feminina do Estado: o Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, localizado na capital mineira.

Cores, linhas, agulhas e criatividade transportam 35 presas da unidade prisional para uma nova vida, cheia de boas perspectivas. As detentas participam de uma oficina de artesanato realizada na unidade há mais de um ano, que ganhou o nome Linhas da Liberdade por representar uma nova perspectiva de futuro.

Diversos professores voluntários ministraram dentro da penitenciária aulas de crochê, tricô, bordado, introdução à marcenaria, flores em papel e empreendedorismo.

Esta é a segunda vez que as peças produzidas pelas detentas são expostas e vendidas na Feira Nacional de Artesanato, que recebe produtores e artesãos do país inteiro e, também, de outras nacionalidades. Para a diretora de Atendimento e Ressocialização do complexo prisional, Maristela Andrade, o nome do projeto já diz tudo sobre o empoderamento que essa oficina trouxe para elas.

“Foi uma oportunidade única, que misturou educação e trabalho. Elas puderam aprender artesanato e também a gerenciar um negócio próprio. E elas não vão ficar restritas apenas a um artesanato comum, mas poderão inovar em cada traçado que elas fizerem”.

Tudo começou por meio da presidente do Instituto Centro de Capacitação e Apoio ao Empreendedor (Centro-Cape), Tânia Machado, que procurou a unidade prisional para ensinar fuxico às presas, a partir de resíduos de tecidos.

Mas as coisas mudaram quando Tânia começou a frequentar a penitenciária. Ela se encantou com a oportunidade e ganhou amor pelas presas e pelo projeto. O carinho se tornou uma preocupação de mãe, e hoje a artesã a considera suas meninas.

“Eu vi que não poderia ser simplesmente um projeto de só três meses e tchau. Resolvi levar mais coisas, como o bordado, que deu muito certo. Muitas delas não sabiam nem pegar em uma agulha e hoje bordam lindamente. Temos muitos produtos delas aqui na feira”, diz Tânia.

A presidente do Centro-Cape conta ter descoberto muitos talentos que nem as sabiam que tinham. “Uma das presas tinha muitos problemas, tomava muitos remédios, e tudo mudou depois do projeto. Nós trabalhamos com elas a questão da dignidade, e para mim não me interessa o que elas fizeram, o que me importa é prepará-las para o dia em que saírem da unidade”, relata Tânia.

As detentas falam que os momentos em que estão na oficina as transportam para outro lugar longe dali. Muitas das peças levam frases de inspiração e superação, na maioria das vezes feitas pelas próprias presas, que procuram trazer uma verdade para que os consumidores se identifiquem com os produtos. Sabrina da Silva é uma delas, que vê na oportunidade a sua ressocialização.

“Tem sido muito gratificante poder aprender um ofício e, quem sabe, abrir um negócio. A Estevão Pinto é realmente uma penitenciária modelo e que ressocializar. Aqui são oferecidas oportunidades para quem quer mudar. Se você quer crescer e trabalhar e souber aproveitar, você vai ter a chance de alcançar sua liberdade com mais tranquilidade”, afirma Sabrina.

Carteirinha de Artesão Profissional

Por meio de uma articulação do Centro-Cape, todas as presas que participaram da oficina receberam uma Carteirinha de Artesão Profissional, expedida pela Secretaria Extraordinária de Desenvolvimento Integrado e Fóruns Regionais (Seedif).

Na próxima semana, o projeto irá se tornar atividade laboral, e as detentas serão inseridas no mercado autônomo. Elas poderão produzir diariamente seus produtos, o dinheiro arrecadado com a venda será entregue a elas, que poderão enviara para a família comprar material. As capacitações continuarão com novas técnicas de artesanatos.

Instituições filantrópicas e o conselho da comunidade local também poderão doar material para fomentar a produção, de acordo com a nova resolução de artesanato da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap).



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