No mês da mulher, Mediação de Conflitos promove discussões sobre violência doméstica 

Lideranças de comunidades e profissionais que atuam no programa participam de debates para trocar experiências e pensar em formas de romper o ciclo da violência

imagem de destaque
A ideia da visita a Inhotim partiu do Centro de Prevenção à Criminalidade (CPC) do Taquaril
  • ícone de compartilhamento

Falar de enfrentamento à violência não é tarefa simples. Mas um grupo de mulheres artesãs da região do Taquaril, localizado na capital, vivenciou, nesta quarta-feira (15/3), uma experiência singular. O grupo passou o dia no Instituto Inhotim, em Brumadinho, onde, além de ter a oportunidade de conhecer obras de artistas renomados, participou de um debate sobre a violência doméstica e familiar.

A ideia da visita partiu do Centro de Prevenção à Criminalidade (CPC) do Taquaril, com o objetivo de fortalecer o vínculo entre essas mulheres e encorajá-las para o enfrentamento das violências. O Centro de Prevenção é o local onde são desenvolvidos programas de prevenção à Criminalidade da Secretaria de Segurança Pública (Sesp). No CPC Taquaril, há o Mediação de Conflitos, que capitaneia essa ação, e o programa de Fica Vivo!, voltado para a redução de homicídios de jovens.

Como explica a diretora de Resolução Pacífica de Conflitos da Sesp, Flávia Mendes, a escolha por Inhotim deve-se ao fato da referência e importância da arte na vida dessas mulheres. No bairro onde moram, elas se se reuniram e organizaram uma feira de artesanato para expor os produtos que elas mesmas produzem. 

Já a gestora do CPC Taquaril, Raquel Guimarães, justifica a escolha das mulheres que foram levadas para o Inhotim. “Não necessariamente essas mulheres sofrem ou já sofreram violência doméstica e familiar. Mas elas têm uma rede de vizinhas e amigas que acabam confidenciando-lhes as agressões sofridas no âmbito familiar. A ideia é que elas sintam-se fortalecidas para incentivar outras mulheres a procurar ajuda para a resolução desses conflitos”, explica.

Em 2016, o CPC Taquaril realizou 501 atendimentos do Mediação de Conflitos. Foram mais de nove mil atendimentos desde 2005, quando o programa começou a atuar no território.

Lideranças da Região Metropolitana

A ação de discussão da violência doméstica no Inhotim não é isolada. No mês da mulher, o Programa Mediação de Conflitos está realizando uma série de encontros e debates sobre o tema, voltados tanto para a comunidade, quanto para os profissionais que atuam no programa.

Na terça-feira (14/3), cerca de 150 mulheres que são lideranças comunitárias e analistas de atendimento Mediação na Região Metropolitana de Belo Horizonte se reuniram para trocar experiências e pensar em formas de deixar o ciclo da violência. 
 

Crédito: Marcelo Sant'Anna/Imprensa MG

Na abertura do encontro, a subsecretária de Políticas de Prevenção à Criminalidade, Andreza Gomes, falou da importância refletir e ouvir as histórias das pessoas que estão ao redor. E de como essa troca de experiências ajuda tanto no trabalho das analistas nos Centros de Prevenção à Criminalidade quanto das lideranças comunitárias - muitas vezes o primeiro ponto de apoio de mulheres em situação de violência nas comunidades. “A proposta deste dia é trazer a discussão e reflexão do lugar da mulher nas comunidades. De como são todas importantes no processo de mudança que tanto queremos”, reforçou.

Convidada para compartilhar sua experiência de vida, Marília Oliveira é moradora do bairro Veneza, em Ribeirão da Neves, há mais de 20 anos. Ela contou que, após dar um basta na violência que enfrentava dentro de casa, juntou suas coisas e buscou um novo caminho. Hoje, ela é referência para outras mulheres que passam por essa situação e, dentro da Associação Comunitária do bairro, oferece cursos para ajudá-las a serem mais independentes.

“Eu acredito e sempre digo às mulheres que é a partir da independência que elas ficam mais fortes para não aceitarem mais a violência”, contou. Na Associação, Marília oferece cursos de costura, culinária, artesanato e informática.

Histórias como a de Marília fazem parte da rotina das analistas que recebem e acolhem diariamente o público no Programa Mediação de Conflitos dos CPCs espalhados pelo estado. Ana Maria Miranda, por exemplo, foi uma das analistas convidadas e, na oportunidade, falou sobre como tem auxiliado no incentivo ao protagonismo e postura mais independente dessas mulheres. Ana Maria faz parte da equipe do CPC Vila Cemig/Conjunto Esperança, na região do Barreiro, e falou de como as mulheres são colocadas, muitas vezes, como subalternas em relação aos homens. 

“Eu acho de extrema importância falar sobre feminismo com essas mulheres. Do quanto precisamos romper com essa ideia de que somos frágeis, de que não podemos chegar onde queremos, de que devemos obediência aos homens. Tudo isso nos prejudica na hora do basta nas situações de violências. Mulheres empoderadas não aceitam o desrespeito”, salientou a técnica Ana Maria.

Mediação de Conflitos

O programa Mediação de Conflitos (PMC) do Governo de Minas é desenvolvido pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), como prevenção à criminalidade, e atua em territórios marcados pela violência e baixo acesso a direitos. Atua a partir dos fundamentos da Mediação Comunitária, objetivando a resolução pacífica de conflitos, com foco na prevenção e redução de homicídios em razão de violência doméstica, familiar e contra a mulher, conflitos entre vizinhos e a violação de direitos. Isso é feito por meio da participação social e institucional, organização comunitária e orientações para acesso a direitos. Tem caráter participativo e inovador, incentivando o diálogo e possibilitando o acesso a direitos e o fortalecimento dos vínculos de grupo e comunidades.

O PMC é organizado metodologicamente em quatro eixos de atuação, que contribuem para a leitura e análise das dinâmicas das violências e da criminalidade e, assim, maior qualificação das intervenções e alcance dos objetivos traçados pela Política de Prevenção Social à Criminalidade. São eles: Atendimento Individual; Atendimento Coletivo; Projetos Temáticos; Projetos Institucionais. 



Últimas