Egresso de centro de internação é referência para adolescentes em conflito com a lei

João Cleber conheceu o programa "Se Liga", da Seds, e visita centros socioeducativos para replicar a experiência

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O “Se Liga” possui regionais de atendimento nos municípios de BH, Uberlândia, Montes Claros, Governador Valadares e Juiz de Fora
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De adolescente autor de ato infracional a profissional bem sucedido. Resumidamente, essa é história de João Cleber, hoje com 19 anos de idade, que, em pouco mais de 12 meses, conseguiu reescrever a narrativa da própria vida. Em setembro de 2014, quando estava prestes a ser desligado do Centro Socioeducativo Santa Clara, ele conheceu o programa “Se Liga”, da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). Essa experiência levou o rapaz a ser, atualmente, uma das referências do programa de apoio a egressos, inclusive com idas aos centros socioeducativos para contar a experiência para adolescentes internos.

O Se Liga é um programa de livre adesão, que faz a mediação entre o egresso e a rede parceira da Subsecretaria de Atendimento às Medidas Socioeducativas (Suase)/Seds, promovendo o encaminhamento para cursos profissionalizantes, escolas, serviços de saúde pública, espaços culturais, áreas de lazer, entre outros. Como o próprio nome indica, o programa é um convite ao adolescente para se conectar a espaços, atitudes e pessoas que o afastem do ambiente do ato infracional cometido.

João diz que aderiu ao Se Liga, pensando no futuro da filha de três anos de idade. Envolvido na criminalidade desde os 13, o jovem diz que as relações nesse meio só lhe trouxeram problemas e sofrimento.

“Os amigos que fiz naquela época estão presos ou mortos. Não adianta pensar que não cai, porque cai. Eu indico o “Se Liga” para os adolescentes, porque sei da importância desse apoio e espero que eles não sejam apenas mais alguns números nas estatísticas de criminalidade”, diz João.

Conscientização 

O Se Liga começa com a conscientização e mobilização dos adolescentes quando ainda estão em cumprimento de medida nos centros socioeducativos. Ao ganhar a liberdade, o jovem é convidado a participar do programa. Tendo interesse, ele é atendido por uma equipe técnica que o orienta conforme suas demandas, de ordem particular, profissional ou educacional.

Assim foi com João, que deu os primeiros passos para a ruptura com a criminalidade ainda durante o cumprimento da medida socioeducativa. Estimulado pelo Se Liga, deu continuidade aos estudos e começou a trabalhar como zelador em uma igreja frequentada pela família. Quando ganhou a liberdade foi em busca do segundo emprego com a ajuda do programa.

“A equipe do programa me ajudava a marcar entrevistas de trabalho e ainda me dava suporte financeiro para que eu pudesse pagar as passagens. Comecei a trabalhar em uma empresa de ônibus como cobrador. Depois de seis meses fui promovido a auxiliar administrativo, e, dois meses mais, passei para o cargo de auxiliar financeiro”, relembra com orgulho.

Referência

Pablo Silva, de 14 anos, está cumprindo medida socioeducativa na Casa de Semiliberdade Planalto e ouviu a palestra de João em evento promovido recentemente pelo Se Liga. Pablo conta ter reconhecido a própria experiência na criminalidade nas histórias contadas por João. Mas Pablo assegura que o modelo que pretende seguir é do ‘novo’ João.

“A atividade foi boa para refletir um pouco sobre a minha vida. Quero sair do crime e pretendo participar do Se Liga quando terminar de cumprir minha medida. Meu irmão já participa do programa. Ele está estudando e fazendo cursos”, revela Pablo.

A duração do vínculo dos adolescentes com o “Se Liga” é de até um ano. Por isso, em setembro de 2015, João foi desligado do programa, mas está sempre em contato com a equipe para participar das atividades de divulgação do projeto.

Parceiros

Os parceiros são fundamentais para o sucesso do “Se Liga”.  A assistente da Divisão de Seleção da Associação Profissionalizante do Menor (Assprom) Claudia Rosa conta que o programa conduz o adolescente para a associação, onde ele passa por uma capacitação técnica e comportamental. Em seguida, é feito um encaminhamento para o mercado de trabalho. 

“A rede, formada por técnicos da Assprom e do “Se Liga”, ajuda a tratar as demandas que vão além do âmbito profissional do adolescente, agregando também uma formação humana”, explica Claudia. 

A gerente assistencial do Centro Mineiro de Toxicomania (CMT) da Rede Fhemig, Monica Borges, conta que a maioria dos adolescentes atendidos pela CMT, para o tratamento de álcool e outras drogas, está cumprindo medida socioeducativa. A parceria com o Se Liga é importante para a manutenção desse tratamento, já que o programa continua orientando esses adolescentes após o período de internação.

O “Se Liga” possui regionais de atendimento nos municípios de Belo Horizonte, Uberlândia, Montes Claros, Governador Valadares e Juiz de Fora. Sendo que Belo Horizonte atende toda a região metropolitana e as regionais do interior atendem outros cinco municípios (Pirapora, Teófilo Otoni, Patrocínio, Uberaba e Muriaé). 



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