Pronunciamento do governador Fernando Pimentel durante inauguração de rodovia e Centro de Prevenção à Criminalidade em Juiz de Fora

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Bom, eu estou aqui hoje, vou ser sincero com vocês, resgatando uma dívida, pagando, de certa forma, uma dívida. Uma dívida com Juiz de Fora e com a Zona da Mata, mas comigo mesmo. Primeiro, com a Zona da Mata, onde eu deveria ter vindo antes, inclusive na inauguração deste teatro que foi há pouco tempo e não pude vir por uma questão de agenda.

Eu fiquei muito chateado, queria ter estado aqui com vocês. Mas, enfim, surgiu a oportunidade em seguida, da gente fazer um ato que é esse aqui hoje, que comemoraria a inauguração deste teatro, já feita, a estrada que está funcionando e que só falta o trevo, quer dizer, o trevo já está lá, mas só falta a finalização do trevo, que nós vamos fazer, e o Centro de Prevenção à Criminalidade. Três conquistas, eu diria, que merecem a nossa comemoração, nossa alegria. Então, juntando tudo isso, eu pensei que era o momento de ir à Zona da Mata, a Juiz de Fora, uma cidade que me é muito querida.

E também resgatar uma dívida comigo mesmo e com a minha memória afetiva dessa região e dessa cidade. Eu vou ficar por aqui, vou pernoitar aqui, e amanhã vou ter a alegria e a honra de ir a Rio Novo, cidade do meu pai, e receber o título de cidadão honorário. Então, agora eu vou ser da Zona da Mata mesmo. Essa era uma dívida que eu tinha, passei muitas férias na infância em Rio Novo e, claro, aqui também.

A cidade é muito pertinho e não tinha como ir lá sem passar por Juiz de Fora. Isso, sem contar com as vezes que eu ia ao Rio de Janeiro quando criança e, inevitavelmente parava aqui. Como eu sou mais antigo que a maioria dessa plateia aqui vocês não vão saber do que eu estou falando. Mas os mais antigos vão se lembrar: meu pai parava na churrascaria Zé Vais e a gente almoçava lá antes de seguir viagem. Enfim, tenho lembranças muito queridas, afetivas, importantes dessa cidade. E eu estava devendo a mim mesmo uma vinda aqui para resgatar essas lembranças. E, claro, colher o carinho e a hospitalidade que os mineiros de todas as regiões sabem atribuir a quem chega mas, especialmente, os mineiros da Zona da Mata.

Então, o primeiro motivo da minha visita é esse. O segundo motivo é que, aqui, mais do que em outros lugares, a gente pode mostrar claramente e falar para a imprensa que está aqui, nossos queridos amigos profissionais da imprensa, qual é o grande desafio hoje dos governos. Não sou do governo estadual, mas também dos municípios. Estão aqui os prefeitos que sabem do que eu estou falando, e, certamente, também do governo federal.

Nos estamos navegando num mar tomentoso, como disse aqui a minha querida amiga Margarida Salomão. A crise mais profunda e mais extensa, mais grave, da história da República brasileira. É uma crise econômica, uma crise política, uma crise institucional, social, nós estamos vivendo um período de quase desagregação do nosso país. E não é fácil governar em uma situação como essa. Se fosse fácil, nós íamos ter um cenário diferente.

Mas não é fácil, é muito difícil, e não é só porque não tem recursos, e porque nós estamos vivendo um período de absurda criminalização da política, isso atinge não só os políticos, mas todos os cidadãos e cidadãs. Uma certa exacerbação e uma certa brutalização dos conflitos sociais. Isso tudo somado nos dá um cenário quase aterrador. E nós enfrentamos o cenário, nós estamos navegando. E, como disse a Margarida, Minas Gerais é diferente, tem mostrado um desempenho muito melhor que a maioria dos Estados brasileiros numa tempestade como essa, atravessando o tsunami sem que o barco tenha naufragado, apesar de todas as dificuldades que vocês conhecem, financeiras, orçamentárias, jurídicas, de toda ordem. Isso se deve a duas coisas e eu acho que devemos registrar essas duas coisas aqui na Zona da Mata, aqui em Juiz de Fora. Porque aqui não vou dizer que mais mas tanto quanto outras cidades mineiras, essas duas virtudes que eu vou mencionar estão muito presentes.

Em primeiro lugar, o trabalho. O mineiro é um povo trabalhador. Meu pai falava isso e eu gosto de repetir. A grande vocação do mineiro é trabalhar. Nós somos o único Estado brasileiro cujo toponímico, nossa designação de origem, é uma profissão. Uns são cariocas, outros são paulistas, catarinenses, gaúchos, são todas designações geográficas, pernambucanos, goianos.

Nós, não, nós somos mineiros. Mineiro é o que, quem nasceu em Minas? Sim, mas é quem trabalha na mina. Nós poderíamos ser carpinteiros, marceneiros, serralheiros, mas não, somos mineiros. É uma profissão. Isso não é gratuito, o mineiro e a mineira são trabalhadores.

Nós levantamos cedo, trincamos os dentes, trabalhamos o dia inteiro, agradecemos a Deus que nos dê saúde, pedimos a Deus para nos dar saúde no dia seguinte, e repetimos a dose. Dia após dia, noite após noite é a mesma coisa. Quem vive na Zona da Mata sabe do que eu estou falando. Nós temos uma grande bacia leiteira aqui.

Não tem quem trabalhe mais que aquele que depende do seu rebanhozinho de vacas, que tem que tirar leite duas vezes por dia, tem que acordar cedo, dar assistência ao gado, e assim é em todas as profissões. Portanto, Minas enfrenta a crise com trabalho, muito trabalho. Não é choramingando, reclamando pelos cantos, lamuriando, lamentando, a vida está ruim, está difícil.

E a outra coisa, característica de Minas Gerais e muito aqui da Zona da Mata, dessa região, é a serenidade. A serenidade dos povos que vivem entre as montanhas. A montanha nos dá essa solidez. Guimarães Rosa tem um texto célebre em que ele diz: “Minas, o que é? Minas é a montanha”. A montanha está lá, sólida, permanente, nos dando um exemplo de serenidade. Se nós fôssemos cariocas, nossa referência seria o mar.

O mar, cada dia está de um jeito. Tumultuoso, tempestuoso, no outro dia está calmo, num dia está azul, no outro está cinzento. É um pouco imprevisível, você fica um pouco a sabor do que está ocorrendo ali na água do oceano. Nós não, nós somos montanheses, nós somos de Minas. Então nós olhamos e vemos sempre a montanha, ela está lá sólida, nos dando aquele exemplo de serenidade, de eternidade.

Por isso os mineiros têm essa profundidade, mesmo os mais simples, tem essa profundidade de espírito, essa postura serena que nos caracteriza, que nos distingue dos demais estados, dos demais povos que configuram a grande confederação que é o Brasil. Talvez por isso, por essas duas virtudes é que a gente tem enfrentado, melhor do que a maioria dos estados, essa crise terrível.

E aí, nessa crise terrível, eu quero dizer para vocês para encerrar porque já estou falando muito, que nós estamos fazendo aquilo que o povo mineiro nos indicou fazer. Governar, todos nós sabemos disso, é fazer escolhas. Não tem jeito de fazer tudo. Você tem que escolher o que você vai fazer. Porque o dinheiro é curto e não dá para fazer tudo. E ainda que tivesse dinheiro você tem que fazer um tipo de escolha que beneficia aqueles que lhe elegeram.

E o que é fazer escolhas no nosso caso? Nós escolhemos fazer aquilo que é mais importante, mais prioritário, para melhorar a vida das pessoas. É simples assim. Por isso que criamos os fóruns regionais de governo para escutar o que a população do interior do Estado tinha a dizer, para ouvir as demandas e prioriza-las e organiza-las de forma que fossem atendidas primeiro aquelas mais prementes, aquelas mais urgentes e depois aos poucos ir atendendo todas as outras e isso funciona. As pessoas veem que funciona. Não temos dinheiro para fazer tudo. Então você chega na região e pede para o povo fazer a escolha. Olha precisa da ponte, precisa da estrada, precisa do hospital, precisa da escola, precisa do apoio para aquela indústria que chegou agora. Mas nós não conseguimos fazer tudo, então, por favor, escolham o que é mais importante.

E aí você vai a cada momento, a cada ciclo do orçamento você vai resolvendo um tipo de problema e escutando a população. As vezes isso não é bem entendido. Muitas vezes a imprensa faz uma leitura, eu diria, equivocada desse modelo de governo. A pouco tempo eu li em um jornal de circulação nacional uma matéria qualquer falando sobre Minas que dizia assim: sem grandes obras para inaugurar o governo entrega ambulâncias. Como se entregar ambulâncias fosse uma coisa menor, menos importante. Em um Estado que mais de 300 municípios com menos de cinco mil habitantes.

Aqui tem prefeitos de municípios pequenos. Um município com cinco, seis mil, sete mil ou três mil habitantes, todos nós sabemos que não é possível manter nesse município um equipamento de saúde de grande porte. Não tem como ter um hospital em um município desse. Nem mesmo clínica especializada de grande abrangência você consegue mantes. Aliás, na maioria desses municípios nem médicos a gente consegue colocar. Quando o governo do presidente Lula quis levar médicos para todos os municípios nós tivemos que buscar em Cuba, os nossos companheiros cubanos e cubanas que vieram nos auxiliar com o programa Mais Médicos.

Então, municípios pequenos tem que ter equipamentos de transporte novo, eficiente, funcional para levar o paciente até o município maior. É simples assim! Não é uma escolha que está sendo feita porque tem pouco dinheiro ou porque você não tem outra coisa para fazer senão isso. É uma escolha estratégica que nem é feita pelo governo, é feita pela população. Se você consultar as populações dos municípios pequenos eles vão pedir é viatura para a polícia, é ambulância nova, é viatura para o serviço de assistência social e assim por diante. Ou máquinas para recuperar as estradas. Então, essa ideia de que a obra grande, a coisa suntuosa, luxuosa é que marca o governo e que, portanto, o governo tem que ter a sua marca construindo pirâmides de Qéops, para dar um exemplo histórico de um lado e de outro falar que fez só coisas pequenas é uma ideia equivocada.

Não é o tamanho da entrega é a importância dela. É saber se ela é ou não prioritária para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Eu canso de receber prefeitos que me pedem coisas pequenas, mas que são extremamente úteis para melhorar. A pouco tempo um prefeito do norte de Minas nos pediu, está aqui o secretário Murilo, 1,5km de asfalto, pouquíssima coisa, para ligar um distrito até a rodovia asfaltada. Por que ele precisava daquilo? Porque nesse distrito tem um frigorífico importante e como a estrada era de terra o frigorífico não conseguia exportar a sua produção. Porque pela regulação sanitária internacional se você transportar por terra depois que a carne está processada, ainda que seja 500 metros, aquilo não pode ser exportado.

Então com 1,5km nós transformamos um frigorífico da região em exportador de carne. E aí claro vai aumentar a renda, o emprego, tudo que você sabe. Nós podíamos olha e falar que não era nada, 1,5km que coisa pequena, não vale a pena. Mas vale muito a pena. Por isso é preciso ouvir as pessoas. Então, governar fazendo escolhas e mais do que isso escolhas que são fruto da audiência, da ouvidoria digamos assim, da população é modelo de governo, eu diria, que consegue melhor do que qualquer outro enfrentar e vencer crises tão devastadoras como essa que o Brasil está vivendo. Com trabalho, serenidade, equilíbrio, buscando sempre o apoio do poder legislativo, buscando sempre a convivência com o poder judiciário, Minas vai navegando.

A tempestade continua? Talvez continue mais um pouco, mas nosso barco está aí, vamos navegando e vamos vencendo. Como eu disse com equilíbrio, com serenidade, com trabalho, vamos continuar assim. Eu tenho certeza que esse ano, que é um ano de escolhas, o povo vai saber repetir a escolha que fez há quatro anos atrás. Que seja assim, Deus nos ilumine, muito obrigado pelo carinho de vocês.