Taça das Favelas promove a inserção social de jovens de comunidades carentes de BH

Maior torneio de futebol entre favelas do mundo é realizado pela primeira vez em Minas Gerais com apoio do Governo do Estado. Finais acontecem neste final de semana

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A ideia do torneio é promover a inclusão social por meio do esporte e desfazer estereótipos atribuídos às favelas
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O campo de terra batida da Barragem Santa Lúcia, em Belo Horizonte, foi o palco escolhido para sediar a versão mineira da Taça das Favelas, maior torneio de futebol do gênero no mundo. A estimativa da Central Única das Favelas (Cufa), idealizadora do projeto, é de que mais de 12 mil jovens, divididos em seleções masculinas e femininas, participam da competição somente na capital.

É a primeira vez que Minas Gerais recebe a Taça das Favelas, que tem o patrocínio do Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Esportes (Seesp).

A ideia do torneio é promover a inclusão social e desfazer estereótipos atribuídos às favelas, bem como promover a integração entre moradores de diferentes áreas, muitas vezes rotuladas como rivais, por meio da maior paixão nacional. Em Belo Horizonte, por exemplo, se inscreveram na competição 32 comunidades tradicionais de diferentes pontos da cidade, como Aglomerado da Serra, Cabana do Pai Thomaz e Ventosa.

Para o secretário de Estado de Esportes em exercício, Ricardo Sapi, o apoio da Seesp à Taça das Favelas é uma amostra da proximidade que a Seesp busca ter com todas as modalidades, em diferentes níveis.

“Com essa competição conseguimos promover a ascensão social por meio do esporte e aumentamos as ações esportivas no estado para sermos cada vez mais próximos dos municípios. Espero que este seja apenas o início de um evento duradouro, que se solidifique ao longo dos anos, tornando-se exemplo para outras cidades mineiras”

Ricardo Sapi, secretário de Estado de Esportes, em exercício

Nascido e criado no Alto Vera Cruz e atualmente morador do Aglomerado do Santa Lúcia, o presidente nacional da Cufa, Francislei Henrique, analisa a primeira edição do torneio em Minas Gerais. “Está sendo hiperpositivo. Pela primeira vez temos em BH um projeto capilar que dá unidade para as favelas do estado. É uma experiência fenomenal ver as seleções com os nomes das favelas e disputar os jogos”, salienta Francislei.

As duas comunidades onde Francislei já morou, Alto Vera Cruz e Aglomerado Santa Lúcia, fazem uma das semifinais da competição feminina neste sábado (4/2). Apesar do carinho especial por ambas as equipes, ele garante que sua torcida é por todas as comunidades.

“Minha função foi de colocar as equipes para que todas tivessem condição de ter uma boa participação e avançassem. É uma disputa muito saudável”, frisa o presidente da Cufa. Com a grande aceitação do torneio em Minas Gerais, Francislei já projeta o crescimento da próxima edição da Taça das Favelas e o início de outras atividades em solo mineiro.

“Esse é o projeto piloto e posteriormente vamos trazer outras ações da Cufa para serem implementadas. Já temos um planejamento concreto e algumas ações já estão em fase de implementação. Estão bem encaminhadas”, antecipa.

Dedicação ao esporte

Técnico da seleção de Capitão Eduardo, Daniel Barbosa, que também é morador da comunidade, é um dos responsáveis pelo feito de levar a equipe às finais da Taça das Favelas. Atualmente no 5º período do curso de Educação Física, ele coordena um projeto social na comunidade.

“O projeto começou pequeno, com o futsal. Depois que entrei no curso de Educação Física fui convidado a desenvolver um projeto maior com o futebol de campo. De lá para cá a coisa ficou séria”, conta Barbosa.

Atualmente, o projeto recebe dezenas de jovens de 13 até 17 anos, divididos em duas categorias, infantil e juvenil, para treinamento semanal e disputa de duas competições. Uma delas é a divisão de futebol amador na categoria juvenil e a outra, a partir deste ano, é a Taça das Favelas. Segundo observa Barbosa, a competição promovida pela Cufa tem mexido com a autoestima dos atletas.

“Parece que eles estavam a vida inteira esperando por essa oportunidade, de fazer o que mais gostam. Sair da comunidade, vestir o uniforme e representar o local onde moram foi a melhor coisa que já aconteceu na vida deles. Eles já se sentem campeões apenas com a oportunidade de estar representando a comunidade”

Daniel Barbosa, técnico da seleção de Capitão Eduardo

Sonho de todo jogador

A Taça das Favelas também é uma oportunidade para que novos talentos esportivos sejam revelados. Tradicional no Rio de Janeiro, onde está em sua sexta edição, a competição já revelou atletas para o futebol profissional, como Erick Brendon, do América-RJ, e Mateus Norton, do Fluminense.

Em Belo Horizonte, Matheus Jhonatan, 16 anos, meia atacante e camisa 10 da seleção de Capitão Eduardo, também sonha em ser jogador profissional de futebol. Dono de grande talento, Matheus tem sido um dos destaques no torneio e já foi convidado para fazer testes no Atlético após uma peneirada realizada na comunidade há dois anos. De todos os garotos, ele foi o único aprovado, embora ainda não tenha conseguido dar prosseguimento à carreira.

“Desistir jamais”, frisa o jovem. “Na época não estava preparado. Hoje, vejo a Taça como uma grande oportunidade. Já vi olheiros de grandes times aqui. Basta o jogador querer mostrar o que sabe”, acredita Matheus. A próxima oportunidade para o jovem mostrar seu potencial será durante a semifinal contra o Complexo Tiradentes, marcada para este sábado (4/2). “Estamos ansiosos. Não tem jeito”, confessa.

Finais do campeonato

As semifinais do campeonato acontecem neste sábado (4/2), a partir das 11h, com jogos entre 4 seleções femininas e 4 masculinas.  As finais serão realizadas neste domingo (5/2), a partir das 13h45, junto à cerimônia de encerramento e premiação.

No feminino, os times classificados para a próxima etapa são os das comunidades Complexo das Casinhas, Alto Vera Cruz, Aglomerado Santa Lúcia e Vila Pinho. Já no masculino, Complexo Tiradentes, Morro das Pedras, Complexo São José e Capitão Eduardo estão na semifinal.

Todos os jogos da Taça das Favelas Minas acontecem no Campo da Barragem Santa Lúcia, no Aglomerado Santa Lúcia.

Mais informações estão disponíveis em www.tacadasfavelasminas.com.br.



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