Projeto Rodas de Leitura leva jornalista Xico Sá à ala LGBT do presídio de Vespasiano

No Dia Internacional contra a Homofobia, detentos participaram de bate-papo e ouviram trechos de uma crônica sobre a emocionante carta escrita pelo ex-jogador Toninho Cerezo à sua filha Lea T

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O principal objetivo do Projeto Rodas de Leitura é desenvolver a curiosidade e despertar o desejo e o hábito da leitura
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O Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) e o Sempre um Papo, em parceria com a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), realizaram nesta quarta-feira (17/5), na ala LGBT no presídio de Vespasiano, no Território Metropolitano, mais uma etapa do Rodas de Leitura. O encontro contou com a participação do escritor e jornalista Xico Sá, que conversou com os detentos sobre a importância do hábito de leitura e chegou a compartilhar uma das crônicas presente no livro que será lançado ainda hoje em Belo Horizonte: "A Pátria em Sandálias da Humildade".

Logo na abertura, os internos surpreenderam e fizeram várias perguntas para o cronista, dentre elas, sobre o que é preciso para se tornar um escritor e qual o melhor ambiente para escrever. Entre as várias histórias contadas, eles revelaram que se comunicam no dia a dia, entre eles, por meio de cartas. Os detentos também se mostraram interessados do início ao fim.

O escritor e jornalista se encantou com os participantes. "São pessoas que têm histórias muito ricas para contar e, posso dizer, melhores que as minhas. Também arrisco dizer que estive diante de vários escritores em potencial", afirmou.

Durante o encontro, os detentos da ala LGBT foram tocados pela leitura da crônica escrita por Xico Sá com base na carta de Toninho Cerezo dedicada a seu filho Leandro, hoje conhecida como Lea T.

Demonstrando sensibilidade com o tema, Xico Sá citou um dos trechos mais emocionantes da carta: "Menino ou menina, Leandro ou Lea, não importa mais, sempre serei seu pai e você, orgulhosamente, um pedaço de mim". O encerramento da visita foi amplamente aplaudido por cada um dos participantes.

Para Giovani Batista, de 26 anos, o projeto faz com que eles se sintam importantes. "A gente não só se sente lembrado, mas também respeitado. Não é só pela remição, mas ler é uma maneira que temos de fugir da tristeza, dos problemas e da falta da família. De ocupar o tempo", disse.

A opinião é compartilhada por outros companheiros, como Wellington Fernando, de 22 anos. "Confesso que não tinha muito o hábito de ler, mas é um meio de ocupar a mente da gente, de esquecer dos problemas. A gente se sente muito importante. Nunca imaginei que, logo na cadeia, teria a oportunidade de conhecer uma pessoa com a importância do Xico Sá", destacou.

O principal objetivo do Projeto Rodas de Leitura é desenvolver a curiosidade e despertar o desejo da leitura em pessoas que, em geral, não têm esse hábito. A iniciativa conta com a participação dos autores dos livros lidos, que vão até as unidades prisionais para conversar diretamente com os internos, além do apoio de editores, professores e alunos da Fundação João Pinheiro (FJP) e também de editoras que doam obras do seu portfólio.

O Rodas de Leitura prevê encontros com contadores de histórias voluntários, dinâmicas de Leitura, encontros com escritores e acompanhamento para a elaboração de uma resenha. Com a participação, os detentos podem ter até 4 dias da pena reduzidos. Para isso, eles precisam fazer a leitura e a resenha referentes ao livro no período de um mês. Após a correção, os trabalhos são enviados para o juiz, que então decide sobre a remição da pena.

Durante os quatro meses de duração do primeiro ciclo do projeto, os detentos têm acompanhamento de pedagogas dentro das unidades prisionais. O objetivo é que, ao final deste período, as Rodas de Leitura possam ter continuidade.

Para a pedagoga da Seap, Paula Franco Silva, o projeto é importante para os presos. "As Rodas de Leitura para eles significa tudo. Além de abrir caminho para o conhecimento, eles se sentem importantes como devem ser, se sentem respeitados. Toda quarta-feira eles trazem, além das resenhas, muitas histórias e ideias, isso é fantástico. A leitura acalma, acalenta e ajuda a combater o stress e traz vários outros benefícios para o ser humano. Dá para perceber que o projeto tem melhorado inclusive o comportamento deles", explicou.

O programa, que é inédito no Brasil, teve início no dia 22 de março de 2017, no Centro de Referência à Gestante Privada de Liberdade. O livro trabalhado foi "O Diário da Mãe de Alice", de Mariana Rosa.

No dia 5 de abril, o projeto chegou à ala LGBT do presídio de Vespasiano. A coletânea de crônicas Das Minas, da jornalista e escritora Zulmira Furbino, foi a obra escolhida. Lá, uma semana antes do previsto, os 11 detentos entregaram as resenhas. O próximo livro a ser trabalhado será "O Encontro Marcado", de Fernando Sabino.



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