Povoado mineiro celebra 312 anos de história de festejo religioso

Festa da Cavalhada de Nossa Senhora de Nazareth, em Morro Vermelho, conta com apoio da Fundo Estadual de Cultura para preservar características de um evento que atravessa séculos em Minas Gerais

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Para este ano, os investimentos do Fundo Estadual de Cultura (FEC) totalizam R$ 11,5 milhões
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As festas religiosas marcam a história de recantos e lugarejos de Minas Gerais.   Um exemplo é Morro Vermelho, povoado de Caeté, Região Metropolitana de Belo Horizonte, que comemora na próxima semana os 312 anos da Festa da Cavalhada de Nossa Senhora de Nazareth, padroeira do lugar.

As festividades contam com apoio do Fundo Estadual de Cultura (FEC) e têm programação intensa nos dias 6, 7 e 8 de setembro. As celebrações movimentam o povoado de cerca de mil habitantes, e são esperados aproximadamente dez mil visitantes.

O ápice da festa vai ser no feriado de 7 de setembro, com a realização da cavalhada. Às quatro horas da manhã, os moradores e visitantes serão acordados pela banda de música local, fogos de artifícios e repiques de sinos.

Na sequência acontece o desfile dos mascarados, personagens que têm presença marcante na cavalhada do Morro Vermelho e atraem, principalmente, as crianças. O grupo é composto de homens e mulheres que vestem roupas estranhas e máscaras assustadoras.

De acordo com a tradição, a função dos mascarados é expulsar os males das casas e das ruas do povoado. O desfile deles será acompanhado de pessoas batendo caixas e tocando sanfonas.

Característica secular

Despois desses rituais e da novena, vem a cavalhada, prevista para às oito e meia da noite. O costume preserva características das festividades do início do Século XVIII. Os 12 cavaleiros cristãos e os 12 mouros conduzem a bandeira de Nossa Senhora de Nazareth até à Praça da Matriz, onde são recebidos com música, repiques de sinos e fogos de artifícios.

Adriana Leal, uma das organizadoras, explica que na cavalhada os fogos de artifício deixam de ser um show pirotécnico, assumindo valores simbólicos. “Os fogueteiros conversam entre si por meio dos fogos, estabelecendo uma linguagem que marca a evolução dos cavaleiros”, ressalta.

Cor e brilho

As vestes dos cavaleiros e os enfeites dos cavalos também dão colorido à festa. Os mouros vestem camisa azul de manga longa, calça azul marinho com listas laterais brancas, capacete azul com cauda da mesma cor, gravata e botas pretas. Já os cavaleiros cristãos usam camisa branca de manga comprida, calça preta com listas laterais brancas, capacete branco com cauda comprida da mesma cor, gravata e botas pretas.

As vestimentas dos embaixadores são mais pomposas. O mouro usa capa azul e coroa brilhante da mesma cor. O cristão veste capa branca e coroa branca brilhante. Os cavalos também trazem enfeites nas celas, guizos e fitas coloridas no peitoral e adornos de rosas nos freios.

Apesar de enfocar a luta entre mouros e cristãos, a cavalhada em Morro Vermelho representa o final da guerra, culminando com a vitória dos cristãos, a conversão dos mouros ao cristianismo e o pacto de aliança.

O embaixador mouro saúda a bandeira, recebida do embaixador cristão. Em seguida a bandeira é colocada no mastro, que é erguido pelos fiéis da comunidade e romeiros. Para selar a paz, cristãos e mouros entrelaçam fitas no mastro, amarrando o compromisso de fé aos pés da padroeira.

Para finalizar, os cavaleiros fazem uma série de evoluções, encenam um oito (entrelaçando-se como sinal de união), uma meia lua (símbolo de amizade crescente) e assistem à queima de fogos (que significa a queima de deuses pagãos). Em seguida, eles se despedem dos espectadores acenando lenços brancos.

Costume de gerações

A Festa da Cavalhada de Nossa Senhora de Nazareth em Morro Vermelho é comemorada, ininterruptamente, há mais de 300 anos. A tradição, que começou em Portugal no Século XVII e se espalhou pelo Brasil, chegou ao povoado em 1704, pouco antes da Guerra dos Emboabas. Desde então vem sendo transmitida de pai para filho.

O empresário Jeferson Evangelista Gonçalves tem 60 anos e há 46 participa da cavalhada de Morro Vermelho. Todo ano ele marca presença na festividade, mesmo vivendo longe do povoado onde nasceu.

Jeferson mora em Açailândia, no Maranhão, há 17 anos. O empresário e a família já estão em Morro Vermelho para a cavalhada deste ano.

“Faço questão de estar sempre presente. Não é nenhum esforço vir de longe participar dessa festa religiosa”, diz animado, o empresário. Feliz por rever os parentes e ajudar a manter a tradição, Jeferson conta que o avô, no passado, também participava da cavalhada. O empresário vai desfilar como cavaleiro cristão.

No dia da cavalhada, Walisson dos Santos deixa de ser vigia para se tornar um dos cavaleiros da batalha final contra os mouros. Ele participa da festa desde a adolescência e mantém o mesmo entusiasmo. “Eu não via a hora de chegar o dia da cavalhada para mostrar a minha fé e a vontade de estar ali. Essa alegria não mudou”, lembra.

Recursos do FEC movimentam setor cultural

A Festa da Cavalhada de Nossa Senhora do Nazareth, em Morro Vermelho, foi um dos 230 projetos aprovados pelo edital 2015 do Fundo Estadual de Cultura, programa do Governo de Minas Gerais. No ano passado, o FEC disponibilizou cerca R$ 7,5 milhões para propostas culturais em 140 municípios mineiros.

No último mês de junho, a Secretaria de Estado de Cultura (SEC), lançou os editais do FEC 2016. Para este ano, os investimentos do fundo totalizam R$11,5 milhões. As inscrições já formam encerradas, e os projetos estão em fase de análise.

Para melhor distribuição de recursos, o edital do FEC 2016 foi dividido em três frentes, com intuito de especificar proponentes dos projetos, melhorando a distribuição e a transparência no repasse dos recursos.

As categorias são as seguintes:  Direito Público Municipal; Pontos de Cultura; e Organizações da Sociedade Civil. Outra novidade é a categoria destinada às comunidades tradicionais de Minas Gerais, com R$ 2,5 milhões em investimentos.

Em Minas Gerais existem comunidades e povos tradicionais em todos os 17 territórios. Entre eles estão: apanhadores de flores Sempre Viva, artesãos do barro e tecelãs, catingueiros, ciganos, congadeiros, extrativistas, faiscadores, garimpeiros, geraizeros, indígenas, pescadores artesanais, além de povos de circo, povos tradicionais de matriz africana, quilombolas, ribeirinhos, vazanteiros e veredeiros.

Programação/Festa da Cavalhada de Nossa Senhora de Nazareth, em Morro Vermelho

Dia 6

17 horas - Concentração e desfile de mais de 500 cavalos pelas ruas e avenidas de Caeté, seguindo em direção ao povoado de Morro Vermelho, a 8 quilômetros da sede

Dia 7

4horas - Abertura da programação pela banda de música local, fogos de artifícios e repique de sinos

12 horas - Desfile dos mascarados pelas ruas de Morro Vermelho

20h30 - Início da Cavalhada, na Praça da Matriz – S/N.

Dia 8 (Dia da Natividade da Virgem Maria)

10 horas - Missa cantada em latim, acompanhada pela orquestra da Corporação Musical Santa Cecília de Morro Vermelho e, em seguida, celebração do aniversário de Nossa Senhora

19h - Procissão com a condução da imagem até a matriz



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