Mulheres mineiras mostram sua força e dão exemplos de trajetórias profissional e pessoal

Seja em cargos de poder, no campo ou no começo de suas vidas produtivas, elas mostram o que têm em comum: muita garra e amor pelo que fazem

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A jovem Mariana Monteiro é uma das alunas do curso de programação para mulheres, oferecido pelo Governo de Minas Gerais
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Na quarta parte da série especial feita pela Agência Minas Gerais em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o protagonismo feminino fica ainda maior: aqui, ao invés de apresentar programas e ações públicas, como nas três reportagens anteriores, destacamos algumas trajetórias que sintetizam - se é que é possível simplificar tamanha diversidade - a força e a representatividade das mulheres mineiras. Conheça um pouquinho da história dessas mineiras:

A força da mulher do campo

“A palavra luta está no cotidiano nosso, no dia a dia. Se a gente para, as coisas não avançam. É a luta pela política, para que as entidades sejam mais participativas, para que a terra seja documentada, nossos direitos sejam reconhecidos. Então é uma luta diária a nossa vida. Acho que enquanto a gente viver a luta continua. Não me vejo quieta dentro de uma casa, sem ir em busca de algo”. É com este depoimento forte que a Agência Minas Gerais apresenta a Maria Lúcia Cristo, 55 anos.

Moradora de Simonésia, no Território Caparaó, dona Lúcia é uma das mulheres do campo que terão sua biografia publicada pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário (Seda) em parceria com a Fundação João Pinheiro.

Ela é a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Simonésia, que existe há 30 anos. “Comecei a ocupar vaga na diretoria, como suplente, em 2004. Em 2007, o colega saiu e eu assumi. Na época, muitas mulheres não tinham nenhum documento na região. Então nos empenhamos nisso. Fizemos um mutirão de documentação para a mulher trabalhadora na região, em 11 municípios”, diz. “Começamos, a partir daí, a fazer com que as mulheres entendessem que a identidade de trabalhadora rural é tão importante quanto qualquer outra”, completa.

Dona Lúcia e o marido Geraldo plantam café em Simonésia. (Crédito: Divulgação/Seda)

Quando entrou no sindicato, o número de associadas não correspondia a 10% do total. Hoje, dona Lúcia conta, orgulhosa, que elas são maioria: mais da metade. “Além de associarem, elas têm que ir para os espaços de poder, de decisão. Nas assembleias temos voz e voto igual aos homens. Em muitos sindicatos a mulher tem que fazer outra atividade para ter renda e participar. Aqui em Simonésia fizemos o inverso: o sindicato oferece garantias para as mulheres participarem”, afirma.

A bandeira da luta pela igualdade de gêneros é carro-chefe na vida da agricultora. “Para que a vida das mulheres tenha uma mudança, elas têm que ter as mesmas condições de participação e decisão que os homens. Esse é um desafio que precisa ser vencido", defende.

Ouça aqui o depoimento da agricultora. 

A força da mulher no poder público

“Sou protagonista na minha vida, nas escolhas que faço. Uma frase que gosto muito: lugar de mulher é onde ela quiser”, ressalta a auditora geral do Estado Luciana Nogueira, 46 anos, que assumiu o cargo em dezembro de 2017.

Formada em Ciências Econômicas e mestre em Administração Pública, Luciana está no Estado desde 1993, quando entrou, via concurso público, em um cargo de ensino médio. “Aos 26 anos assumi meu primeiro cargo de gestora. Fiquei muito pouco tempo em cargo efetivo mesmo, sempre estive em cargos de direção. E é um desafio, porque a mulher é vista assim: Por que ela está aqui? Foi indicação para ela estar onde está? E não foi o meu caso. Todos os cargos que ocupei foram por mérito do meu trabalho. Sempre vivi o meu trabalho”, enfatiza.

Auditora interna de carreira e à frente da auditoria - um dos braços da Controladoria-Geral do Estado - há pouco mais de dois meses, Luciana está conduzindo um projeto desafiador no órgão. “A auditoria governamental contempla duas vertentes de atuação: a atividade de auditoria interna, desenhada para agregar valor e melhorar as operações de órgãos e entidades, e a fiscalização”, explica.

A atividade de auditoria interna é uma perspectiva de atuação na qual Luciana investe. "Nossos principais clientes são o gestor (o Estado) e a sociedade. Se o gestor estabelece e garante uma estrutura de controle interno que conduza a uma gestão mais eficiente, a prestação de serviço para o cidadão certamente será de maior qualidade”, pontua.

Luciana Nogueira está à frente da auditoria desde dezembro de 2017 (Foto: Divulgação/CGE)

 

Ela conta que muitos órgãos de controle, segundo o Banco Mundial, estão fazendo apenas fiscalização. "Precisamos equilibrar a nossa atuação, seguindo as diretrizes internacionais de boas práticas profissionais de auditoria interna. Isso envolve uma mudança de cultura, será um processo construído aos poucos, mas queremos mostrar o valor que a auditoria tem para a gestão, sem deixar de lado a fiscalização, que é uma de nossas atividades, igualmente importante”, destaca.

O trabalho será feito com capacitação de auditores em todo o estado, sensibilização de gestores para a nova atuação, aperfeiçoamento da estrutura para adequação às novas ações, entre outras medidas. “Tudo conduz para uma melhor qualificação e desempenho da Controladoria Geral do Estado. Estamos começando e queremos atingir níveis de excelência”, pontua Luciana.

“Não tenho medo de desafio. E, por ser mulher, acho que ele fica ainda maior, porque as pessoas confundem a delicadeza no trato com falta de firmeza em decisões e em posicionamentos. E uma coisa não tem nada a ver com a outra”, afirma a auditora-geral, que, a partir da experiência da mãe - que parou de trabalhar assim que se casou -, cresceu sendo incentivada a estudar, trabalhar e ser independente.

“Somos quatro irmãs, todas têm formação superior, seus trabalhos e reconhecimento profissional. Nós, mulheres, temos que fazer muito esforço para mostrar nossa competência. Mas nós conseguimos provar, ao longo do trabalho, que os preconceitos caem por terra. Podemos e devemos estar onde nós quisermos”, conclui.

A força da jovem mulher

A jovem de 16 anos Mariana Monteiro, estudante da Escola Estadual Helena Guerra, sai diariamente de Betim, onde mora, para fazer o curso de Programação Web exclusivo para jovens mulheres. Ofertadas pela Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais (Utramig), as aulas acontecem no PlugMinas, na região Leste de Belo Horizonte.

“Eu tenho dois tios programadores. Via eles trabalhando e pensava que aquilo era coisa de doido. Quando eu comecei o curso criei gosto por programação. Estou tendo a oportunidade de começar, nessa idade, um curso desse. Isso é muito massa”, comemora.

A rotina é pesada. Ela estuda durante a manhã em Contagem, de onde segue direto para as aulas do curso. “Apesar do meu horário ser curto, venho da escola pra cá, chego oito, nove horas da noite em casa, e é o tempo que tenho para estudar os conteúdos da escola e do curso. Mas sei que o esforço que estou fazendo agora vai gerar frutos lá na frente. Não estou perdendo tempo”, afirma.  

Para Mariana, uma turma exclusivamente feminina significa maior liberdade de aprendizagem. “Uma vai ajudando a outra, está sendo muito bom. Temos liberdade para falar, expor as dúvidas. Em um ambiente misto, muitas vezes a gente vai ter receio de perguntar alguma coisa”, relata.

Ela conta, ainda, que percebe o potencial da área, e, mesmo nova, já tem ideia de seguir a profissão. “Nós mulheres, desde pequenas, já crescemos com receio de sermos reprimidas pela sociedade, pelos homens. Como se não pudéssemos expandir nossa criatividade e conhecimento. E o curso está nos preparando psicologicamente para saber que vamos ouvir, muitas vezes, que não vamos conseguir. E que a gente consegue sim”, finaliza a estudante.

Ouça aqui o depoimento de Mariana.



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