IEF integra expedição que mapeia situação das reservas naturais em Minas

Belezas naturais e os impactos da degradação são revelados em três roteiros do Caminhos dos Gerais, com o objetivo de avaliar o impacto das unidades de conservação ambiental no Território Norte

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De um lado, redutos naturais de rara beleza e muita importância para a fauna e flora sujeitos à exploração humana. De outro, a necessidade de preservá-los. Estas duas vertentes reúnem profissionais do Governo do Estado e de diferentes campos de atuação em uma frente de atuação que tem o objetivo de identificar a necessidade de ações conjuntas para a promoção do cuidado com os ecossistemas do território mineiro.

Profissionais que têm o meio ambiente como causa comum integraram a 5ª Expedição do Programa Caminhos dos Gerais e percorreram atrativos naturais do Território Norte. Entre eles destacam-se sítios arqueológicos com pinturas rupestres, cavernas como a gruta do Janelão, que possui a maior estalactite do mundo, os complexos de lagoas e veredas e o pantanal mineiro, além dos balneários do Rio Catulé e do Rio Pandeiros, com três cachoeiras próximas.

Promovida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Montes Claros, a 5ª Expedição aconteceu em setembro, com participação de representantes de diferentes instituições, entre os quais, profissionais dos Escritórios Regionais Norte e Alto Médio São Francisco do Instituto Estadual de Florestas (IEF).

A expedição voltou ser a organizada, depois de nove anos sem atividades. Idealizada em 2005, teve edições naquele ano e em 2006, 2007 e 2008, quando deixou de percorrer as cidades do Norte de Minas. Dessa vez, a atividade foi desenvolvida em três circuitos, com roteiros que tiveram início e fim em Montes Claros, denominados Serra do Cabral, Espinhaço e Peruaçu.

Pela primeira vez na expedição, a coordenadora regional de unidades de conservação vinculadas ao IEF no regional Alto Médio São Francisco, Laíssa de Araujo Viana, reforça a importância da atividade para o levantamento de dados, in loco, que darão base às ações de preservação ambiental.

“Ao conhecer áreas da região, de extrema importância ambiental, e ver os impactos negativos da degradação, lembramos o quanto são necessárias, participação e ajuda da comunidade local e dos visitantes”, explica Laíssa, que percorreu o caminho Peruaçu.

Já o Escritório do IEF, na regional Norte, participou da expedição nos roteiros do Espinhaço e da Serra do Cabral. A coordenadora do escritório, Margarete Azevedo garante que a atividade permite reconhecer as belezas naturais, ver de perto os impactos negativos existentes na região e verificar a contribuição das unidades de conservação para a proteção desses ambientes.

Nesta edição de retomada do Programa Caminhos dos Gerais, a coordenação da expedição reuniu-se diversas vezes até definir quais os roteiros iriam contemplar. Definiram a proposta de passar por sete unidades de conservação existentes na região.

1. Parque Nacional Cavernas do Peruaçu

2. Parque Estadual Veredas do Peruaçu

3. Parque Estadual Serra do Cabral

4. Área de Proteção Ambiental (APA) Nacional Cavernas do Peruaçu

5. Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Pandeiros

6. Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra do Cabral.

7. Refúgio de Vida Silvestre do Rio Pandeiros

A 5ª Expedição Caminhos dos Gerais percorreu, ao todo, 1.950 km em 22 municípios mineiros, recolhendo informações e levantando dados nos diferentes espaços ambientais. O próximo passo será elaborar um documento com o diagnóstico encontrado nas regiões visitadas.

Durante a caravana, os participantes foram divididos em grupos e, futuramente, irão se reunir novamente para que cada coletivo apresente projetos e ações que poderão ser aplicados nos locais com o objetivo de proteção, conservação e/ou recuperação.

Além da Prefeitura de Montes Claros e do IEF, participaram da atividade representantes da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFJM) e Unesco.

Caminhos e experiências

Com um almoço em sua sede, em Januária, a Cooperativa dos Agricultores Familiares e Agroextrativistas do Vale do Peruaçu (Cooperuaçu) acolheu toda a equipe que fez parte da expedição no roteiro Peruaçu. Em paradas como essa foram realizados momentos de socialização e debates com moradores que vivem e convivem com as demandas ambientais locais.

“Já conhecemos a região e ficamos felizes em poder compartilhar o que temos de bom, mas também mostrar nossos problemas para que possamos saná-los juntos”, diz o coordenador da Cooperuaçu, Joel Araújo Sirqueira, ao apontar as queimadas e a falta d’água como os grandes desafios à preservação e conscientização na região.

“Além de ações de restauração florestal e recuperação de áreas degradadas, buscamos evitar ou sanar as queimadas, por meio de prevenção e controle, e a falta d’água com tecnologias sociais para armazenamento”, explica Sirqueira.

O percurso Peruaçu foi acompanhado de perto pela Rádio Itatiaia, que transmitiu, diariamente, os detalhes da expedição na série de reportagens ‘A Itatiaia na Expedição Peruaçu’, dentro do Jornal da Itatiaia, primeira edição.

“Apesar de toda a beleza do Peruaçu, muitos contrastes chamam atenção. A degradação ambiental tem afetado drasticamente o lugar. Vimos veredas e lagoas secas, animais com sede e fome, além de moradores buscando alternativas para sobreviver em meio a seca”, recorda o jornalista Osmar Macedo, da rádio.

Macedo descreve o Vale do Peruaçu como um lugar encantador, com muitas paisagens, como as descritas por Guimarães Rosa no ‘Grande Sertão: veredas’. “Enchem os olhos de vida e cor, rico em belezas naturais e culturais, e assim deve ser preservado. Para isso, todos devemos fazer a nossa parte”, conclui.

Professora do Departamento de Biologia da Unimontes, a doutora em Botânica, Isla Azevedo reforça a importância da reunião de pessoas de distintas formações para traçar estratégias e propor soluções em conjunto com instituições públicas, privadas, com a participação da sociedade civil, pesquisadores e ambientalistas.

Isla integrou o grupo que percorreu a região da Serra do Cabral e pode verificar de perto as consequências dos impactos ambientais causados por ações antrópicas. “É o que estamos fazendo neste momento, preparando os produtos da expedição que serão divulgados em forma de artigos científicos, documentários, cartilhas, reportagens”, afirma.

Ainda é possível encontrar lugares que estão preservados dentro do Parque Estadual Serra do Cabral, como os afloramentos rochosos que exibem uma vegetação extremamente rica, cachoeiras com grande fluxo de água e com mata ciliar preservada, extensos campos de sempre-vivas e indícios de presença da fauna de grande porte.

Entre os problemas recorrentes na Serra do Cabral que ameaçam os ecossistemas ali presentes estão o avanço das plantações de eucalipto e pinus nas áreas de recarga de muitas veredas e, como consequência, o secamento delas, com a invasão do cerrado, além da perda da biodiversidade na flora e na fauna causada pela ação do fogo.

A equipe do IEF, Regional Norte, tem realizado trabalhos técnicos com prioridade ao cercamento de nascentes e recuperação de áreas degradadas para recuperar as áreas prioritárias de recarga hídrica. Durante a expedição, os expedicionários concluíram que, com apoio do poder publico e das empresas privadas, é possível realizar um trabalho ainda mais eficiente de recuperação das nascentes e veredas na Serra do Cabral. 

Espinhaço

O roteiro Espinhaço teve como destino os municípios de Itacambira, Botumirim, Cristália e Grão Mogol. Em uma visão geral dos desafios, percebe-se que o cenário ambiental não está suportando as ações do homem, principalmente daqueles que ali habitam e de grandes empresas de eucalipto. A região necessita de ações ambientais para preservação dos recursos hídricos, fauna e flora da Serra do Espinhaço.

“Com apoio da Diretoria Geral do IEF,  já estamos em fase final do processo de criação de uma Unidade de Conservação na região, o Parque Estadual de Botumirim. O parque será de fundamental importância para preservação do território”, explica a coordenadora do escritório Norte do IEF, Margarete Azevedo.

Diante do atual cenário de exploração dos recursos ambientais feita de forma excessiva, sem controle e sem respeito à natureza, alguns produtores já contribuem no processo de cercamento de nascentes nas áreas de criação do futuro parque e seu entorno. 

Novas expedições

A Secretaria de Meio Ambiente de Montes Claros prevê a realização de uma nova expedição, desta vez, na região de Matias Cardoso. A proposta é integrar a atividade às celebrações do Dia dos Gerais, em 8 de dezembro, quando comumente a capital mineira é transferida para a cidade do Território Norte. A região conta com três unidades de conservação, em função de um contrato de compensação pela instalação do Projeto Jaíba.



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