Cineclubismo e mostras audiovisuais despontam como difusores da democratização da cultura em Minas Gerais

Iniciativa inédita do Estado, por meio da Secretaria de Cultura, alavancou mostras e cursos entre 2016 e 2018. Editais de R$ 980 mil têm o cineclubismo e o roteiro entre as inovações

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Cine Rio São Francisco, contemplado pelo Prêmio Exibe Minas, realizado em Matias Cardoso
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“O cinema é uma invenção sem futuro”, diz a frase que se atribui a Louis Lumière, um dos irmãos Louis e Auguste Lumière, os inventores do cinematógrafo, nomeados "os pais" do cinema.

Há 123 anos, após a primeira sessão de cinema da história, no Grand Café, no Boulevard des Capucines, em Paris (28 de dezembro de 1895), não se sabia que a “invenção sem futuro”, que ilumina as grandes telas, faria cintilar emoções e alumbrar pensamentos e reflexões, ainda hoje, por meio da arte cinematográfica.

Transformar Minas Gerais em um grande cenário cinematográfico e incentivar a cadeia produtiva do audiovisual são algumas das metas alcançadas pelo Governo de Minas Gerais.

O Prêmio Exibe Minas, que integra o Programa de Desenvolvimento do Audiovisual Mineiro (Prodam) é um dos propulsores dessa iniciativa. Executado pela Secretaria de Estado de Cultura (SEC), com investimentos de R$ 980 mil, em 2016 e em 2018.

A ação é um reconhecimento à importância do segmento nas categorias “Mostra/Festival Audiovisual Mineiro”, “Cineclubismo” e ações de associações sem fins lucrativos que estimulam a formação e a multiplicação de público para o audiovisual.

Câmera, ação!

Animação, documentários, curtas, longas e novos roteiros ganham destaque no programa. Ao longo dos últimos dois anos, entre 2016 e 2018, a catarse provocada pela sétima arte conseguiu provocar os sentidos dos mineiros pelos 17 Territórios de Desenvolvimento em Minas Gerais.

O “cinefronteira” (escrito em minúsculas) é um dos exemplos. Realizado pelo cineclubista e arte educador, André di Franco, em parceria com a Secretaria de Cultura, organizou um cineclubismo em Belo Horizonte com enfoque em regiões periféricas.

As mostras começaram na Faculdade de Ciências Humanas da UFMG, mas expandiram os muros acadêmicos para as ruas. Exibem filmes e promovem discussões acerca das obras.

Hoje, itinerante, o “cinefronteira” faz sessões pela cidade, dentro de centros culturais e periferia onde não há acesso à linguagem cinematográfica.

Também já aconteceram exibições debaixo do Viaduto do Santa Tereza, em Belo Horizonte, o que sublinha o caráter participativo e inclusivo do projeto, na visão de André di Franco.
 

“O cineclubismo é uma iniciativa importante para construção da linguagem e da reflexão sobre o cinema. Uma vez que diagnosticamos a escassez da difusão de produções cinematográficas em Belo Horizonte, nós, enquanto cinéfilos, acreditamos na potência dos filmes. Por isso, é importante fomentar outros espaços para difusão de obras audiovisuais no Estado”

André di Franco
Cineclubista e arte educador, idealizador do "cinefronteira"


O fomento vai além e se multiplica. “O cineclube extrapola as exibições. Em cada evento programado, há também um momento de discussão, no qual críticos, acadêmicos da área e produtores do próprio filme que foi exibido na ocasião ficam abertos ao público para o debate”, ilustra Franco.

O cineclubismo ganhou espaço também na Rede Minas. Semanalmente, os integrantes do projeto faziam a curadoria para exibição de filmes no canal.  Esse trabalho é lembrado por Franco com carinho.

Um pedreiro, conta ele, que mora no interior de Minas, fez um agradecimento especial por ter tido oportunidade de assistir, em casa, a um filme tão incomum, que, nas palavras desse trabalhador, o “tivesse feito refletir tanto”.

O cineclubismo, agora, avança para a função de formação. O grupo vai às escolas periféricas, oferecendo uma cartilha que ensina os participantes a montarem um próprio cineclube.

“Nela, algumas questões são respondidas. ‘Como cria uma sala de cinema? ’, ‘Como fazer um Projetor com caixa de sapato e celular? ’, ‘Como fazer uma sala de aula virar cinema? ”, detalha Franco.

Telonas, salas escuras e espaços urbanos

O Exibe Minas dá frutos também onde o audiovisual mineiro ainda não tinha muito espaço. A mostra “Cineminha na Praça”, por exemplo, realizada em Ipatinga, no Território Vale do Aço, nasceu de uma ação na semana das crianças, em 2012, com todos os equipamentos emprestados.

“Fizemos uma semana de exibições e, após essa divertida semana, passamos a exibir todo sábado filmes para crianças na Praça Daniel Campos Rabelo, e isso durou dois anos”, conta um dos realizadores, Michel Ferrabbiamo. Com o lançamento do Prêmio Exibe Minas, a iniciativa cresceu.

“Vendíamos cachorro quente e pipoca para comprarmos projetores e tela de cinema. No terceiro ano, em 2015, tínhamos uma tela de 1,05 (um metro e meio) e um projetor.

Quando fomos aprovados no Exibe Minas compramos uma tela de 40 metros quadrados (referente a um televisor de 50 polegadas). Viramos o “Cinemão na Praça”, assim carinhosamente chamado hoje”, comemora Ferrabbiamo.

Assim a tela expandiu e a mostra se alargou. O “Cinemão na Praça” chegou a 38 cidades próximas a Ipatinga, num raio de 100 km. Nas cidades de Mesquita, Vargem Alegre, Entre Folhas, todas essas com menos 14 mil habitantes, cerca de 400 pessoas foram às praças em cada sessão.

“O projeto é sensacional e consegue levar à comunidade o cinema a crianças e adultos. Participei, em 2017, na Praça da Bíblia e na Comunidade Serra dos Cocais, ambos em Coronel Fabriciano”, diz Betinna Patassif, uma contumaz espectadora.

“O apoio é sensacional e necessário. Sem a premiação, jamais teríamos comprado essa tela. É importante porque amplia e reconecta as pessoas ao cinema em locais que, talvez, essa oportunidade jamais existiria”, diz Ferrabbiamo.


Casa Cult Darci de Mônaco - Cinemão no Parque (Crédito: Ricardo Alves)


Difusão e democratização

Segundo a Secretaria de Estado de Cultura (SEC), foram 21 editais de audiovisual concluídos até 2018, com a seleção de 342 empreendedores. Ao todo, 26 mostras e festivais produzidos no estado já realizaram, no mínimo, três edições, conforme dados do Fórum Nacional dos Organizadores de Eventos Audiovisuais Brasileiros – Fórum dos Festivais.

O incentivo nos editais foi de dez prêmios no valor de R$ 90 mil, destinados aos contemplados em “Mostra/Festival Audiovisual Mineiro”; cinco prêmios de R$ 16 mil para “Cineclubismo”; e em ações de associações sem fins lucrativos que estimulam a formação e a multiplicação de público para o audiovisual.

Prodam

O Programa de Desenvolvimento do Audiovisual Mineiro foi lançado em maio de 2016, reunindo representantes de instituições privadas, setoriais, órgãos e entidades da administração pública direta e indireta do Estado de Minas Gerais.

Encabeçada pela Secretaria de Estado de Cultura, a rede de cooperação visa atuar como um elo de forças em prol do impulso à formação, produção, distribuição, exibição e preservação do audiovisual mineiro, colocando em uma mesma direção ações diretas e dinâmicas com todos os atores envolvidos.

Desde sua criação, o Prodam já viabilizou o investimento de cerca de R$ 80 milhões na cadeia do audiovisual feito em Minas Gerais. Todo esse trabalho incluiu uma linha de diálogo com o setor e a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que resultou na aprovação da Lei do Audiovisual de Minas Gerais.

A iniciativa unifica as ações no campo do audiovisual promovidas pelas secretarias de Estado de Cultura (SEC), de Educação (SEE) e de Turismo (Setur-MG), além das entidades da administração pública indireta, como as fundações de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Fundação Clóvis Salgado (FCS) e Rede Minas, as companhias Energética de Minas Gerais (Cemig) e de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), a Rádio Inconfidência, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) e a Imprensa Oficial de Minas Gerais.



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