Atividades do Parque Tecnológico da Reciclagem Popular começam em janeiro

Fazenda da Fucam vai abrigar projeto pioneiro de sustentabilidade ambiental

  • ícone de compartilhamento

A presidente da Fucam, Maria Tereza Lara, destacou  a importância do novo Parque Tecnológico (Crédito: Antônio Coquito)

O Parque Tecnológico da Reciclagem Popular de Minas Gerais, o CICLOS, em Esmeraldas, agora é uma realidade. A assinatura Termo de Cessão de Uso da Fazenda Santa Tereza, de propriedade da Fundação Caio Martins (Fucam), ao Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (Insea), na quarta-feira (20/12), também foi uma resposta à demanda da sociedade, surgida durante a realização dos Fóruns Regionais de Governo.

Com ações previstas para janeiro de 2018, a área de 44 hectares da fazenda, às margens do rio Paraopeba, região conhecida como Sítio Novo, que quase abrigou uma penitenciária, vai manter sua vocação educacional.  

“Não podemos reduzir os espaços educacionais. O governo passado havia cedido por 20 anos, por meio de decreto, para construir aqui uma penitenciária,  ou seja, ad eternum, pois depois de construída jamais seria demolida. Com o apoio de parlamentares, secretários e ação do próprio governador, que revogou o decreto, revertemos essa situação”, explica a presidente da Fucam, Maria Tereza Lara.

A proposta de implantar um centro educacional de reciclagem foi construída de forma coletiva com vários setores do governo, parlamentares e com o apoio dos parceiros da fundação. Entusiamado, o coordenador do Centro Educacional da Fucam, e ex-aluno da Fucam, Dedilmo Pereira Duque a solução agradou. “A proposta veio para coroar o trabalho dessa gestão. Como ex-aluno e morador só temos a agradecer”,  disse. 

Atualmente, o Centro Educacional, que funciona na fazenda, atende 320 jovens de três escolas estaduais que integram o Projeto Educação Integral, da Secretaria de Estado de Educação (SEE).

Os alunos participam de oficinas de artesanato, esporte, lazer e música com formação de orquestra e fanfarra e aulas de flauta e violão. Também são desenvolvidos cursos técnicos (eletrônica, RH e panificação) pela Universidade Federal de Viçosa, com duração de dois anos e com 50 estudantes em cada turma e ainda cursos de agropecuária em parceria com a Escola Santa Tereza para 45 alunos. Para o ano que vem estão programados cursos de qualificação profissional em parceria com o Senar. “Estas atividades permanecem”, sublinha o coordenador.

“Acho que o Governo do Estado, por meio da Fucam, dá um passo importante para mudar o paradigma e olhar para o mundo de forma mais sustentável e viver de forma mais sustentável. Nos fóruns regionais, na primeira e segunda etapa, quando instalamos os fóruns e fizemos o diagnóstico territorial, tivemos várias demandas nesse sentido, especialmente de reciclagem popular e solidária. Nós temos catadores que participam de colegiados executivos, representando a sociedade civil, em cada um dos 17 territórios. Estou aqui hoje para reafirmar o compromisso dos fóruns com esta pauta, que é muito importante para nós”, declarou o subsecretário dos Fóruns Regionais, Tadeu Davi.

O prefeito de Esmeraldas, Márcio Antonio Belém, grande entusiasta do Parque, sonha alto. “É emocionante olhar para o alcance dessa proposta, vejo isto como carro-chefe da minha gestão. Não é uma causa só para o município, é para o estado e para o país. Dentro de cinco anos, Esmeraldas será conhecida nacionalmente, queremos ser referência. Ao ver a apresentação do Luciano (Luciano Marcos da Silva - diretor-presidente do Insea), cheguei a pensar: teremos aqui um pequeno Inhotim”, afirmou o prefeito.

“A proposta é séria e focada, prevê produção de energia fotovoltaica, será um celeiro de conhecimento e de formação com a vinda de pesquisadores”, comemorou Márcio Belém.

O lançamento do projeto foi motivo de alegria e de alívio para os moradores vizinhos à fazenda. A professora da Fucam e moradora do bairro Vista Alegre, Silvéria Aparecida Baesse, traduziu o sentimento de vários moradores. “Primeiro ia ser penitenciária, agora com a proposta de parque muda tudo, é gratificante, vai nos ajudar de todas as formas, com conhecimento e cultura”.

Projeto será desenvolvido em ciclos

“O primeiro ciclo começa em janeiro. É o ciclo agroecológico, uma vez que é uma fazenda com cultivo e pequenos animais. Vamos implantar  a permacultura e restaurar edificações  que têm na fazenda. São duas unidades que serviam de moradia estudantil  e que estão há mais de 10 anos fechadas. Estes espaços servirão para abrigar as equipes técnicas  que vão desenvolver os demais ciclos. Terá início também o ciclo do conhecimento -  os estudos e as pesquisas , a partir da vinda de estudantes da extensão da UFMG e da Unicamp. Em julho temos um intercâmbio internacional de estudantes de design. Vamos construir  com muitas inteligências, com muitas mãos”, informou o diretor-presidente do Insea, Luciano Marcos Silva.

Além dos dois primeiros ciclos estão previstos:  um ciclo de energias limpas, com  geração de energia solar, produção de biogás e biocombustível, este último a partir do óleo de fritura, para ser usado n a frota local, e ainda o Ciclo Lixo Zero, que entre outras ações, vai difundir conceitos que promovam a redução de resíduos e a destinação correta do lixo.

“É importante que cada tipo de material encontre uma rota que a gente chama de rota tecnológica, que de fato leve ele para a reciclagem. O conceito do lixo zero é levar para o aterro aquilo que não é passível de reaproveitamento, reuso ou reciclagem. Isto corresponde a 15% de todo o lixo produzido, hoje a gente aterra 90%, tem município que aterra 98%. Estamos jogando a riqueza fora, trata-se de um ciclo vital da natureza”, alerta Luciano.

Ele chama o projeto de ecossistema cooperativo. “Diferentes atores sociais interagem nos ciclos, o que cria plataformas em comum. Por exemplo, um morador que hoje produz um alimento, será incentivado a produzi-lo de forma orgânica,  inclusive usando a compostagem, o lixo tratado”, prevê o presidente do Insea.

Nas próximas semanas será iniciado um diagnóstico in loco para identificar as forças sociais. “Vamos visitar cada família, saber os sonho das pessoas, o que elas desejam para elas e para os filhos, e a partir disso vamos construir essa plataforma colaborativa” informou Luciano.

O Insea foi o vencedor do chamamento público (Fucam nº02/2017), que trata da seleção de organização social para concessão de uso e ocupação da Fazenda Sítio Novo para implementação do Parque Tecnológico de Criação de polo de Conhecimento em Reciclagem Inclusiva. Vinculada à Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese) a Fucam foi criada em 1948 e possui seis centros educacionais, localizados em Buritizeiro, Juvenília, Januária, São Francisco e Riachinho, além de Esmeraldas.



Últimas