Áreas de proteção ambiental contribuem para a realização de pesquisas científicas no estado

Unidades de Conservação são importantes bancos de amostras para a realização de estudos, que trazem resultados de importância local e até nacional

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Em Unidades de Conservação Estaduais, já foi possível mapear três novas espécies de libélulas
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Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica são os três biomas que compõem Minas Gerais. A riqueza desses ecossistemas, inclusive, motiva estudos científicos, muitas vezes de importância nacional, em função da variada biodiversidade no estado. Para se ter uma ideia, atualmente, há 423 pesquisas em andamento nas Unidades de Conservação de Minas Gerais.

Preservar essas áreas e categorizá-las como Unidades de Conservação é uma tarefa fundamental no objetivo de proteção ambiental. No estado, esta é uma atribuição do Instituto Estadual de Florestas (IEF), que cuida da identificação, criação e implantação de áreas protegidas. Por meio deste trabalho, o instituto transforma estes locais em importantes bancos de amostras – com a manutenção de características naturais e garantias adequadas de proteção.

Segundo a gerente de Projetos e Pesquisas do IEF, Janaína Aguiar, o instituto atua desde 1992 no acompanhamento e controle de pesquisas científicas nas Unidades de Conservação Estaduais. “As unidades de conservação existentes em Minas Gerais reúnem diversos estudos, já que protegem grande número de espécies, algumas delas ameaçadas de extinção e outras ainda desconhecidas pela ciência”, diz.

Hoje, Minas Gerais conta com 377 Unidades de Conservação, sendo 146 de proteção integral e 231 de uso sustentável, que têm como objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parte de seus recursos naturais.

Avanços em pesquisa

Quando começou a estudar as diferentes espécies de vespas sociais existentes no estado, há 12 anos, o professor e pesquisador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas (IFSul de Minas), Marcos Magalhães, tinha como referência um mapeamento já existente, com 69 espécies.

Graças ao trabalho por ele desenvolvido e as amostras colhidas em áreas protegidas, com autorização do IEF, hoje Minas Gerais tem 106 tipos de vespas sociais mapeados. “Aumentamos a lista em 40%, só trabalhando em Unidades de Conservação ou áreas próximas”, explica.

Para a coleta de amostras, Magalhães e seus alunos trabalharam no Parque Estadual do Rio Doce, no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro e também no Refúgio de Vida Silvestre do Rio Pandeiros, no Norte do estado, outra categoria de unidade de conservação. A coleção taxonômica de vespas sociais hoje é referência para o estudo dessas espécies no Brasil, e está disponível para visitação e consulta no campus Inconfidentes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas.

O professor é categórico ao afirmar que as Unidades de Conservação fizeram a diferença para a pesquisa científica. “Elas oferecem uma infraestrutura para o nosso trabalho, além, é claro, de uma enorme biodiversidade, mantida pela conservação destes locais”, afirma.

Agora, ele está pesquisando as libélulas, também em Unidades de Conservação Estaduais, e já mapeou três espécies novas para a ciência, isto é, que ainda não haviam sido estudadas e descobertas. “O objetivo é conhecer esta diversidade de alguns grupos de insetos que estão nestes locais e que ainda não conhecemos. Assim, ampliamos a lista de espécies que ocorrem em Minas Gerais ou até mesmo no Brasil e ainda valorizamos estas áreas protegidas”, enfatiza.

Recuperação de solo

Professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Israel Marinho coordena uma série de estudos sobre recuperação de áreas degradadas. Os estudos foram realizados no Parque Estadual do Biribiri, em Diamantina, que comporta uma área que sofreu os impactos da extração de cascalho até a criação da Unidade de Conservação, em 1998.

“Existe no parque uma área muito degradada e com alterações severas na biodiversidade, como ausência de vegetação e alta erosão do solo. Nosso trabalho foi feito no intuito de atenuar este processo de degradação e começar a recuperação do local”, conta.

Segundo Marinho, foram observados resultados interessantes, como o uso da técnica topsoil (transposição de solo) e o plantio de candeia (árvore de caráter rústico e que ocorre naturalmente em solos pobres) para a recuperação de áreas que passaram por processo de mineração.

Ameaça à biodiversidade

No Parque Estadual da Serra do Rola Moça, no Território Metropolitano, o capim meloso, também conhecido como capim-gordura, está dominando a paisagem, prejudicando a flora nativa e favorecendo a ocorrência de incêndios.

Especialista em áreas degradadas e professora do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Maria Rita Scotti Muzzi coordena pesquisa sobre os mecanismos biológicos utilizados pelo capim meloso para invadir o parque. “Trata-se de grande ameaça à biodiversidade dos campos rupestres e cerrado. Os resultados já nos mostram quais são estes mecanismos, o que nos permitirá propor estratégias de manejo para redução de tal impacto”, explica.

A professora conta que utiliza as Unidades de Conservação como referência em grande parte dos estudos para recuperação de áreas degradadas. “Conduzimos uma pesquisa em campo rupestre que tem nos revelado, por exemplo, o risco de uso de adubo químico em Unidades de Conservação como uma ameaça à biodiversidade, pois o fertilizante químico favorece as invasoras em detrimento das espécies nativas”, diz. As pesquisas científicas buscam, assim, estabelecer métodos e técnicas de recuperação com base nos recursos naturais, auxiliando na recuperação da função ambiental de cada tipo de bioma.

Autorização

Atualmente, o processo de concessão de autorização para realizar pesquisa em uma Unidade de Conservação é administrado pela Gerência de Projetos e Pesquisas do Instituto Estadual de Florestas (IEF), por meio da emissão de autorizações que têm como um dos pré-requisitos a assinatura de termo de compromisso pelo pesquisador. Nesse documento, ele se responsabiliza, entre outras coisas, pelo meio ambiente local e pela posterior disponibilização da pesquisa produzida e elaboração de material de divulgação.



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