Discurso do governador Fernando Pimentel durante a solenidade de entrega da Medalha Santos Dumont

  • ícone de compartilhamento
download do áudio

Mineiras e mineiros, brasileiras e brasileiros,

Pela segunda vez, tenho a honra de ocupar a tribuna nesta cerimônia, na condição de governador eleito pelo povo de Minas Gerais. Estamos há exatamente 110 anos do primeiro voo do 14 Bis e há 60 anos da criação, pelo então governador Bias Fortes, dessa medalha, a Medalha Santos Dumont.

O sonho desse genial mineiro era o de se tornar o primeiro homem a voar pelos céus, tripulando aquilo que hoje conhecemos como avião. Esse talvez fosse o maior desafio tecnológico de sua época, na virada do século XIX para o século XX.

Por parecer algo impossível, uma barreira praticamente intransponível, os que se apresentavam como aviadores eram tidos como loucos. Pois é o louco de 1906 que nós homenageamos aqui hoje. Alberto Santos Dumont, filho dessa terra, está marcado para sempre nos livros de história como pai da aviação e certamente um dos mais importante homens na trajetória recente da humanidade.

E agora é o momento de buscarmos inspiração no exemplo de Santos Dumont. Atravessamos uma fase difícil na vida brasileira. Temos problemas graves na política e na economia, que repercutem diretamente na vida de cada brasileiro e de cada brasileira. E a superação desses problemas requer muito trabalho, empenho e sacrifício.

Pois foi com trabalho, com determinação e com muito empenho que Santos Dumont venceu o desafio, aparentemente intransponível, de colocar em voo a primeira aeronave mais pesada que o ar.

Ele não se deixou abater pelas críticas, pelos insucessos temporários, nem pelas pedras no caminho. Este é o exemplo que temos de seguir.

A hora é a do trabalho. É tempo de desanuviar o horizonte e recuperar a esperança. Esta é a tarefa que cabe a cada um e a todos nós. Mais do que nunca, precisamos restabelecer a coesão e a unidade da nação brasileira. É preciso reatar os laços básicos da convivência democrática e acomodar cada um dos poderes da República no estrito limite de seu papel institucional.

É o respeito às regras constitucionais que faz uma nação forte e coesa. Os direitos civis da cidadania inscritos como cláusulas pétreas na nossa Constituição são os verdadeiros pilares da vida democrática.

Ninguém tem o monopólio da verdade nem uma procuração para decidir sozinho o que é melhor para o povo. No Estado Democrático de Direito, ninguém pode estar acima da lei. Não estão acima dela os políticos, nem os militares, mas tampouco estão os juízes e os promotores. Todos, sem exceção, à lei devem se submeter e respeitar antes de tudo o direito do outro, o direito do diferente, do oposto. Esse respeito sagrado é o que caracteriza os estados democráticos e os diferencia dos regimes de exceção.

Esse respeito é o que deve reger a vida pública, a ação dos poderes e, não menos importante, a atividade da imprensa, que queremos livre sempre, mas também sempre consciente da sua responsabilidade.

Tem sido comum no Brasil que certos meios de comunicação investiguem, julguem e apliquem penas no horizonte de uma edição de jornal ou de um noticiário de televisão. Mas não é esse o tempo da justiça.

Os processos legais, garantindo os espaços de defesa e de produção de provas, demandam mais tempo e exigem isenção, algo muito diverso do sensacionalismo midiático que tem marcado o cenário do país. Ao final, queremos todos crer que a verdade se estabelecerá. Mas as mentiras, as calúnias e as acusações falsas, terão perdurado por tanto tempo que inútil será qualquer expectativa de reparação. Erros cometidos, ainda que pretensamente em busca da verdade, não deixarão de ser o que são. Nem a pretensa boa fé transformará o lícito em ilícito.

Na democracia não pode e nem deve haver espaço para messianismos, para o surgimento de super-heróis, de justiceiros travestidos de magistrados. Não. A democracia pressupõe e exige sobriedade e contenção nos procedimentos judiciais, de forma a preservar os direitos individuais de todos e de cada um dos cidadãos. Por isso, urge que saibamos, em meio a esse processo de depuração pelo qual passa o Brasil, resguardar princípios e valores definidores de um estado democrático de direito.

A crise que a União, os Estados e os municípios estão atravessando não encontra paralelo na nossa história. Ela não será superada fomentando o ódio e a intolerância na política e na vida pública. Não será superada com pretensas soluções econômicas, que propõem um falso equilíbrio fiscal à custa do aumento da desigualdade e do desemprego. Não será superada com a produção da desesperança e do desalento na vida da nossa gente.

Ao contrário. Superá-la exige, acima de tudo, humildade e generosidade de um lado - o dos governos - para governar para todos, sem revanchismos nem perseguições, e de outro lado - o das oposições - para não apostar no quanto pior melhor.

Senhoras e senhores, caros amigos e amigas.

Resgatando o exemplo de ousadia e perseverança de Santos Dumont, e reafirmando  nosso compromisso com a democracia, com a justiça social e com o desenvolvimento sustentável, encerro essa fala, pedindo a Deus que nos ilumine e nos guie na senda da fraternidade e da busca do bem comum.

Viva Santos Dumont, viva Minas Gerais, viva o Brasil!


outros áudios